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terça-feira, 26 de março de 2019

a carta de Dona Isabel ao Visconde de Santa Victória

1 de agosto de 1889 - Paço Isabel

Corte midi

Caro Senhor Visconde de Santa Victória

Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas. Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil. Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brasil!

Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo Brasil. Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre!

Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!

Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar mais um pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos. Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro doméstico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino! Si a mulher pode reinar também pode votar!

Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe!

Mando minhas saudações a Madame a Viscondessa de Santa Vitória e toda a família.

Muito de coração.

ISABEL
             Foto-Uma das páginas da carta

segunda-feira, 18 de março de 2019

Deodoro da Fonseca- O Traidor


Apesar de ter sua carreira militar financiada pelo Imperador Dom Pedro ll, que o acolheu quando ninguém mais o fez, o órfão Deodoro da Fonseca o traiu da pior forma possível. Ao saber do golpe militar republicano, Dom Pedro ll perguntou sobre quem liderava o golpe. Ao ter conhecimento de que era Deodoro, exclamou : " Estão loucos! " Após expulsar a família imperial do Brasil, Deodoro da Fonseca foi escolhido como chefe do governo provisório como forma de retribuição. Seus partidários defendiam a ideia de uma ditadura militar, ainda que provisória. Ao organizar o novo Estado brasileiro, agora Republicano, decidiram que o exército seria uma espécie de poder moderador. O Estado deixou de ser unitário, transtornado-se numa federação; o presidencialismo prevaleceu como sistema de governo e o cargo de senador deixou de ser vitalício. Ademais, uma crise irrompeu no Brasil no início de 1891, devido a política inflacionária do encilhamento. Por causa disso, o congresso elegeu, em caráter de urgência, de modo antidemocrático e indireto, Deodoro da Fonseca para a Presidência e Floriano Peixoto para a Vice-presidência. Além disso, cabe ressaltar que a primeira constituição republicana fora promulgada em fevereiro de 1891. Deodoro, devido sua intolerância, despreparo e autoritarismo, entrou em choque com o congresso. Como solução, decretou fecha-lo. A razão por detrás disso encontrava-se no fato de que ele almejava fortalecer o poder executivo e diminuir a autonomia dos estados. Os planos ditatoriais de Deodoro dependiam da unidade das forças armadas - o que não ocorria. Em face das revoltas civis e militares, Deodoro renunciou no dia 23 de novembro de 1891, ou seja, não teve competência para administrar o Brasil nem mesmo por um ano, ao contrário de Dom Pedro ll, que administrou o Brasil desde seus 14 anos de idade, num momento conturbado da política brasileira, até completar 49 anos de governo, deixando consolidada a unidade do imenso território brasileiro, aboliu o tráfico de escravos e a escravidão, transformou o Brasil numa Monarquia Constitucional Parlamentarista, venceu todos os conflitos em que o Brasil se envolveu e que, por fim, converteu-se num colossal erudito. Infelizmente, expulsaram um senhor nascido e crescido no Brasil, órfão de pai e mãe, de saúde precária, estudioso, amante das ciências e das artes, patriota e extremamente preparado para dar lugar a um traidor que sabia apenas manusear armas. FONTES A Formação das Almas : o imaginário da república no Brasil, do historiador José Murilo de Carvalho; História concisa do Brasil, do historiador Boris Fausto; Dom Pedro ll, ser ou não ser, do historiador José Murilo de Carvalho.